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TUDO QUE NÃO INVENTO É FALSO*

 

Existe um objeto alienígena que brota da terra e surge bem ali, logo após a curva, junto a um horizonte móvel, dissolúvel e fantasmagórico, surge quando cochilas dentro de teu carro e pensas ter sonhado com enormes armadilhas fálicas e brinquedos de gente grande.

Você os vê. Mas duvida.

Por vezes, creio na materialização de um mundo invisível e com toda licença, dada pelo Poeta, afirmo que somente as criaturas menores e elementos da natureza, tidos como “desimportantes” podem ver e “transvêr”* o mundo invisivel.

Henrique Detomi chama a atenção para os lugares não vistos, levanta a possibilidade do improvável, dá forma àquilo que não existe sem a presença humana e consciência ao inimaginável.

Nesta série, cria a ambiência de um lugar de sonho, estranhamento e silêncio, com formas simbólicas sugere a existência de esculturas com intenção de serem habitáveis, porém, falidas no plano de execução, e que ainda se ocupam da ilusão de brinquedos que transitam entre o erótico e o lúdico.

Em algum momento, estes mesmos objetos se descolam da terra e flutuam num ar soturno e pesado, encontrando em si uma mobilidade de um balão de gás, surrealmente vazado. Impraticável do ponto de vista mais comum e menos verossímil.

Enquanto interagem com a natureza comum a qualquer lugar inóspito, nascem as primeiras questões colocadas à prova pelo artista:

Onde moram esses escorregadores antes mesmo de existirem?

Tento observá-los e compreender sua localização no tempo, desde as primeiras experiências no atelier do artista, pensava nesses escorregadores como função primordialmente de meio. 

A ação de “estar” acontecendo, escorrendo num cano gigante, vivenciada pela imagem do que seria o popular gerúndio ou uma literal imagem de água de chuva e crianças imersas no mundo de coisas grandiosas e complexas, dando importância aos objetos que aparentemente nasceram sem função alguma.

Henrique é um detonador da ação, do êxtase, não se compromete com inicio e ações derradeiras. Apresenta uma relação paradoxal com a imagem e preenche essas estradas e lugares inabitáveis com objetos de igual transição, abrindo um buraco de passagem, um túnel que remete àquela experiência vivida a caminho de outro lugar, naquele momento que você pensa ter cochilado e sonhado (...)

O artista pergunta sobre o lugar do irreal e propõe diálogos pela dupla interrogação, já não pode preservar seus escorregadores no anonimato, já não pode mantê-los para o lado de dentro de sua retina... “Tudo que eu não invento é falso”*,  disse o poeta Manoel de Barros.

 

Carla Evanovitch.  Artista Visual

*Manoel de Barros.  O Livro sobre nada.

Exposição ‘Onde mora o irreal?’ 2015

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